IMAGINAR NEWSLETTER: Estresse e a inovação (1)
O estresse e a inovação: o sistema de ameaça – fight or flight
O estresse não é simplesmente uma resposta emocional. É um processo fisiológico automático que foi desenvolvido ao longo da evolução humana. Este processo fisiológico é ativado todas as vezes que um estímulo externo percebe algo diferente ou que gere uma preocupação. Este alarme interno pode ser ativado por eventos diferentes e de diferentes intensidades. Como por exemplo, uma decisão complicada, uma discussão de um assunto polêmico durante uma reunião de trabalho, um incômodo gerado com a entrada de um novo membro na equipe, uma discussão mais calorosa com um colaborador. Mas também pode ser gerada por eventos mais cotidianos como enfrentar um tráfico congestionado, estar atrasado, ter que enfrentar filas ou conviver com pessoas que você não tem afinidade. Todos estes pequenos eventos podem gerar o que chamamos de estresse. Cada pessoa tem gatilhos diferentes para o estresse. A mesma situação pode causar reações diferentes, dependendo das particularidades de cada pessoa. E, fundamentalmente das experiências emocionais que cada um teve ao longo da vida.
Quando o cérebro, interpreta alguma situação como ameaçadora ou tensa, todo organismo passa a desenvolver uma série de alterações conhecidas por estresse. O estresse pode ser decomposto em 3 etapas. A ameaça, a adaptação e o esgotamento. A ameaça começa com um gatilho externo. Quando a percepção ativa o circuito de ameaça colocando todos os sistemas corporais em estado de prontidão. Ou seja, todo o organismo é mobilizado para um estado de alerta. É como se estivéssemos, há milhares de anos, nas savanas africanas, e percebéssemos a aproximação de um animal predador. Todos os nossos instintos e sentidos seriam ativados para a fuga ou para a luta.
A adaptação é identificada quando o estresse permanece por um tempo maior. Há milhares de anos, depois que o homem primitivo se safou do perigo, as suas funções biológicas e emocionais retornavam para a posição de equilíbrio. Hoje, o homem moderno vive desafios diários, corporativos ou pessoais, que mantém o sistema de ameaça praticamente ativado. Quando o corpo se acostuma com este tipo de tensão ele entra em um período conhecido como adaptação. Se esta segunda fase se tornar crônica, o corpo entra em estado de esgotamento, vulgarmente conhecido como burnout.
A primeira etapa do estresse: a fuga ou a luta (fight or flight)
A reação de ameaça se inicia quando o cérebro recebe um estímulo externo captado por um dos cinco sentidos. Faz a comparação deste estímulo com as memórias arquivadas e conclui que existe uma ameaça no ambiente. Durante esta fase, o Sistema Nervoso Autônomo (SNA) participa ativamente do conjunto das alterações fisiológicas. O SNA é um complexo conjunto neurológico que controla automaticamente todo o meio interno do organismo através da ativação e inibição dos diversos sistemas, vísceras e glândulas. Se por exemplo você escuta um grito. Este estímulo é captado pelos sentidos e chega até a amígdala cerebral – sistema límbico – que é praticamente a central do nosso sistema de segurança. A amígdala envia um sinal para o hipotálamo – parte do SNA – que inicia a produção de hormônios que serão enviados para várias partes do corpo. Os hormônios liberados entram na corrente sanguínea, chegam nas glândulas suprarrenais para secreção do cortisol. É neste momento, que o processo de estresse se inicia.
A sequência das alterações fisiológicas que ocorrem na fase da ameaça estão abaixo relacionadas:
- Aumento frequência cardíaca e pressão arterial àsangue impulsionado para a atividade muscular e cerebral,preparando o corpo para FUGIR ou ATACAR
- Fígado libera glicose àglicose é energia para os músculos e para o cérebro
- Contração do baço àaumentar glóbulos vermelhos para o sangue
- Redistribuição sanguínea àsangue direcionado para os músculos e cérebro em detrimento da pele e aparelho digestivo
- Dilatação pupilas àaumentar capacidade visual para FUGIR ou ATACAR
- Aumento de linfócitos no sangue para preparar os tecidos para possíveis danos por agentes externos agressores
Como se percebe, nesta fase, a parte simpática do sistema nervoso autônomo está ativada. Toda a circulação sanguínea está direcionada para as áreas do corpo ligadas com a ação. Neste estado, a área pré-frontal do nosso cérebro, onde reside a capacidade de pensar e criar está totalmente desativada. O nosso Tico está no comando. Se lembram do Tico? É o sistema 1, que está no comando. Sempre resolvendo as situações usando as informações e conhecimentos do passado. Nesta situação, não há energia para se pensar e muito menos para inovar. Se as empresas começarem a se preocupar com a saúde mental dos seus colaboradores, mantendo ambientes mais saudáveis e menos estressantes, os resultados da inovação seriam bem mais recompensadores.
O Instituto HeartMath, com o qual trabalho desde 2018, mantém pesquisas atualizadas sobre o impacto do estresse na cognição. A pesquisa científica feita na Motorola com um grupo de gestores e engenheiros mostrou que a redução do estresse contribuiu para melhora tanto das condições fisiológicas – satisfação profissional, melhora na qualidade do sono, quanto para melhora de performance.
O American Institute of Stress (AIS) alega que as três principais causas do estresse são o trabalho, o dinheiro e a saúde. Sendo que o próprio estresse afeta a saúde. As pesquisas realizadas pelo AIS em 2017 indicavam que 77% das pessoas percebiam sintomas físicos do estresse no seu dia-a-dia. E, 48%, alegaram que o estresse tinha aumentado nos últimos 5 anos