IMAGINAR Newsletter: Algumas verdades sobre a nossa memória
Você já reparou que um mesmo evento pode ser contado por duas pessoas de maneira totalmente diferente. Talvez não a essência, porém os detalhes.
Por exemplo: você se lembra do vestido que a irmã de uma amiga estava usando no casamento da sua prima? O quê!!! Nem me lembrava que tinha ido a este casamento! Pois é, é assim que nossa memória funciona. Eu, por exemplo, apaguei um monte de informação dos meus 18 a 19 anos. Vira e mexe, meu irmão me cobra detalhes que eu nem me lembrava mais, como por exemplo um carro chevette alaranjado que eu tinha. Só me deu trabalho. Vivia estragando… o pior é que meu irmão depois comprou o carro de mim!!! Talvez por isto ele se lembre e eu não deste carro que só dava trabalho.!!
Nossa memória não é exatamente igual a um computador. O que você salvou na CPU certamente ficará guardado e poderá ser recuperado integralmente em qualquer momento. Conscientemente não conseguimos fazer a mesma coisa com a nossa memória. O nosso cérebro codifica os estímulos em pequenas combinações de neurônios no córtex e no hipocampo e guarda na memória de longo-prazo que fica na amígdala e no gânglio basal. Para em algum momento futuro poder recuperar. Porém, cada recuperação feita na memória, neurônios são agrupados e recodificados por semelhança, não por igualdade. Grupos de neurônios, não exatamente idênticos aos originais, serão ativados, o que pode ocasionar mudanças, má informação ou interferência, quando recuperamos memórias de algum evento do passado. Especialmente se o cérebro perde o detalhe inicial do evento. Neste caso, ele preenche por semelhança com as informações existentes na memória, para dar sentido ao evento que se deseja lembrar.
Na verdade, nunca conseguimos acessar a memória se não prestarmos atenção. O cérebro tem uma capacidade de guardar cerca de 2,5 petabytes de informação – cerca de 1 milhão de Gigabytes!!!. Suficiente para toda uma vida. Para usar este potencial é preciso engajar ativamente e manter o cérebro saudável e em crescimento.
Em estudo recente feito por pesquisadores ingleses foi identificado que 38,6% dos 6.641 participantes conseguiram lembrar de memórias quando tinham 2 anos ou menos. Para investigar as memórias, os pesquisadores pediram que as informações pudessem ser validadas com fatos investigáveis, como fotos ou estórias de famílias com datas, ou qualquer outra fonte fidedigna. A grande maioria das lembranças não pode ser comprovada. Isto porque, a nossa consciência começa a ser formada por volta dos 6 ou 7 anos. Uma verdade inquestionável é que nossas memórias só são reais desde a última vez que nos lembramos. Pois, todas as vezes que recorremos ao passado, reconfiguramos ou reconsolidamos a estrutura neural da memória., transformado as memórias existentes.
Em 1968, Richard Atkinnson e Shiffrin desenvolveram um modelo de 3 estágios de memorização. O registro sensorial, o processamento de curto-prazo na memória executiva no córtex pré-frontal e memorização de longo prazo.
A informação que entra pelos sentidos – principalmente visual e auditiva – é guardada somente por alguns segundos: entre 0,25 a 05 segundos, apesar de existir uma grande capacidade de obtenção de informação. Somente uma pequena parte destes estímulos sensoriais chegam até a memória executiva que guarda de 7 a 8 itens de informações por 18 segundos. Memória de longo-prazo tem uma capacidade infinita. As informações guardadas permanecem por toda vida. O que não quer dizer que podemos recuperar a qualquer momento. É necessário que o neurônio certo seja ativado com as mesmas conexões para restabelecer as mesmas memórias.
“Memória não é uma questão de tentar lembrar. É para fazer melhor da próxima vez,” afirmam Jeff Zacks (Universidade de Washington em St. Louis) e Chris Wahlheim (Universidade da Carolina do Norte).
Eles chegaram a essa conclusão depois de reunir e analisar várias teorias emergentes das funções cerebrais que sugerem que a capacidade de detectar mudanças no ambiente e nas pessoas desempenha um papel crítico na forma como vivenciamos e aprendemos com o mundo ao nosso redor.
O resultado é um modelo, batizado de “Teoria da Comparação e Recuperação de Eventos pela Memória”, que sugere que o cérebro compara continuamente informações sensoriais de experiências em andamento com modelos de trabalho de eventos semelhantes no passado, que ele constrói a partir das memórias relacionadas ao que está acontecendo agora.
Quando a vida real não bate com o “modelo de evento”, os erros de previsão tornam-se mais prováveis e a detecção de uma mudança desencadeia uma cascata de processamento cognitivo que reconecta o cérebro para ajustar as memórias. Neste caso estamos sujeitos aos viéses cognitivos, que estão presente no nosso dia-a-dia e na nossa vida profissional