IMAGINAR NEWSLETTER: Inovação não é o que se imagina!
Depois de 23 anos ou mais atuando como CEO, consultora ou professora da disciplina de inovação, posso dizer que existe uma grande gap entre os que os executivos entendem por inovação e o que inovação realmente É!!! Bom… então o que é inovação? Existe um falso entendimento de que a inovação é simplesmente criar algo novo. Existe uma escala de criatividade para criar algo novo. No primeiro nível desta escala voce cria algo novo em cima de algo que já existe. Isto é incremental. No segundo nível você pode criar algo novo ou usando uma alavanca de tecnologia nova ou criando um novo modelo de negócio. A ultima etapa desta escala é quando se cria algo totalmente novo, sem precedentes anteriores.
A trajetória de desenvolvimento da inovação provou repetidas vezes que este tipo inovação conhecida por inovação transformacional não é simplesmente fazer algo novo, é destruir a ordem existente das coisas e pensar em um novo mercado, com uma nova solução. É por isso que quase todas as organizações estabelecidas falam de inovação incremental ou de modelo de negócio mas, são avessas à inovação transformacional. Este tipo de inovação é uma ameaça existencial para os gestores, incluindo os próprios inovadores. E o pior… é que ela nasce primordialmente FORA da empresa líder de mercado. Ela é oriunda de um MINDSET totalmente diferente do MINDSET atual da empresa.
A inovação transformacional que aconteceu no setor de papel que digitalizou os documentos que eram copiados não foi antecipada pela liderança da Xerox, certamente não na rápida escala de tempo da revolução digital. Se tivesse sido prevista, provavelmente a “empresa de documentos” já teria entrado há muito mais tempo na tecnologia digital.
Quando vejo as empresas pensarem em inovação e falando em inovação disruptiva, na minha experiência, as empresas estão pensando em usar novas tecnologias para aumentar a performance do que já existe, ou mesmo criando uma nova linha de negócios… para o mesmo mercado. Veja por exemplo o caso do agronegócio. Estão investindo em tecnologias para transformar o trator em autônomo. Aumenta performance, cria um novo tipo de valor. Desloca o operador do trator do mercado reduzindo custo e aumentando performance…. porém, a tecnologia está trazendo as fazendas verticais. O que são fazendas verticais? São galpões reformados usando tecnologia LED para crescer folhagens orgânicas dentro dos grandes centros, economizando água, diminuindo a emissão de carbono porque a logística reduz drasticamente. Fazendas verticais são inovações transformacionais. Provavelmente tornará obsoleta alguma outra linha de negócios dos fabricantes de tratores!!!
Por que as empresas têm dificuldade com a inovação transformacionais?
É extremamente difícil criar ou entregar algo radicalmente novo sem adotar mudanças organizacionais profundas ao longo do caminho e sacrificar alguns de seus investimentos ou oportunidades existentes. Rejeitar a inovação é sempre mais fácil do que adotá-la. Aceitar a inovação transformacional gera estresse organizacional e requer fundamentalmente estratégia, processo e cultura. Além da necessidade de alocar recursos que provavelmente será capital de risco!!!
Na verdade, em qualquer organização madura, a inovação tem um custo significativo, e esses custos estão aumentando. Afinal para transformar voce precisa criar ou inventar algo novo. Ou seja, com recursos escassos você precisa dispor de algo – jogar fora algo – processos, canais, produtos ou linhas de produtos, equipamentos de capital ou, no mínimo, tempo e dinheiro que poderiam ser dedicados a outra coisa – para apostar em algo NOVO não comprovado.
Infelizmente, às vezes somos pressionados a inovar por medo, ou tropeçamos em uma nova maneira de fazer as coisas sem pensar nisso, ou corremos para adotar algo novo porque nos apaixonamos por uma ideia ou uma tecnologia. Independentemente da causa, seja por medo ou falta de noção ou exuberância irracional, podemos nos ver mergulhando adiante com um plano incompleto, ou com nenhum plano. Isso normalmente não termina bem. Isto sem mencionar o desafio do MINDSET que permeia por todos os aspectos da inovação independente de ser incremental ou transformacional.
Quando se fala de estratégia para inovação que irá delinear o processo e formar a cultura no médio e longo prazo, pode-se dizer que a empresa pode ser ofensiva ou defensiva. A estratégia defensiva acontece porque algo está indo mal. As vendas caindo, os distribuidores reclamando, o nível de reclamação aumentando… Já a estratégia ofensiva você sai na frente de onde você e o resto do mercado ou setor estão. Ela cria mercados inteiramente novos, que molda o futuro das indústrias ou cria novos mercados. E embora a nova tecnologia muitas vezes contribua para a inovação ofensiva bem-sucedida, ela normalmente não é a principal. As inovações em design, engenharia de sistemas, marketing, mudança regulatória ou modelo de negócios são pelo menos tão propensas a impulsionar a inovação quanto a inovação tecnológica em inovações ofensivas bem-sucedidas. Como é o caso do Ipad. Aos olhos de muitos o mercado de tablets foi “inventado” pela Apple . Porém, antes do iPad, havia o Newton que foi malsucedido e antes do Newton era o Psion Organizer verdadeiramente revolucionário – uma maravilha técnica dos anos 80 que não conseguiu ganhar força no mercado. A Apple conseguiu integrar os recursos técnicos e funcionais existentes ao design e marketing que criaram um produto atraente com apelo de massa. Ou seja, a principal inovação do iPad foi engenharia de sistemas, design e marketing, não tecnologia.
Quando não existe uma estratégia de inovação clara ela pode acontecer acidentalmente ou ser simplesmente ser algo reativo. Se a Kodak tivesse realmente pensado nas implicações da fotografia digital para os negócios de filmes, eles poderiam ter matado o projeto ou se antecipado às tendências que destruiriam seus negócios principais. O que estrategicamente leva a uma reflexão de que a inovação pode ser algo que destrói para construir longevidade ou algo que melhora e se transforma em novos mercados. Porém, no segundo caso, o tempo pode ser crítico e os avanços tecnológicos devastadores.
Afinal o que é inovação para você e sua empresa? incremental, de modelo de negócio ou transformacional? Ou as três simultaneamente?